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sexta-feira, 18 de julho de 2014

DO ESGOTO DO MUNDO À SALVAÇÃO DOS NOSSOS FILHOS

Dom Lourenço Fleichman OSB

O que me leva a escrever hoje é a constatação, cada dia mais evidente, da dificuldade que as famílias católicas têm para viver neste mundo enlouquecido e transviado. O espetáculo que estamos assistindo, e que não se limita ao carnaval, mas ao ano todo, e a todos os anos, é de meter medo. Nossas famílias, nossas melhores famílias, não conseguem se isentar deste mundo. Todos pactuam  com práticas diversas de destruição do que resta de decência e de família. Digo "família" porque já não há mais nada de sociedade a ser preservado, já não temos mais o que defender! Tudo está destruído. Mas talvez ainda possamos lutar dentro de nossas famílias, ou dentro de nossos corações.
Ora, é justamente esta constatação da destruição de todas as realidades sadias da  antiga sociedade que explica a dificuldade das pessoas em não se contaminar.  Explico.

Dentro de uma sociedade em vias de corrupção, as pessoas teriam de sair de casa tomando certos cuidados para não serem contaminadas: cuidados com os outdoors, com as bancas de jornal, com o convívio no trabalho, e até mesmo com  os assaltos na rua. Dentro de suas casas, haveria necessidade de lutar constantemente contra os programas de televisão, tomar cuidado com o tipo de gibi ou de video-game que compra para os filhos. Dentro de uma sociedade assim, indiferente a Deus e apóstata da Santa Religião Católica, os pais de família teriam de trazer para seus filhos um bom catecismo, uma Capela onde se celebre a Santa Missa Tridentina, onde o catecismo fosse ensinado segundo a doutrina de sempre da Igreja.

Mas não é numa sociedade em vias de decadência, que nós vivemos. E é nesse ponto que se encontra o erro de tantos pais. Ao achar que a questão é de grau de corrupção, eles procuram defender  suas famílias sem no entanto tirá-las do ambiente em que estão sendo corrompidas.

Vejam bem o que quero dizer: nossa sociedade já não tem mais nada que mereça a nossa atenção. Os valores em voga nessa sociedade formam um esgoto nojento e fedorento que emporcalha tudo e todos. Não há como escapar! Você sai na rua, você vai ao médico, você compra um jornal, você é engenheiro, ou advogado, ou motorista de ônibus, o que seja, o que se faça, na rua ou dentro de casa, o esgoto se espalha, contamina, agarra-se em nossas peles, transmite o seu cheiro insuportável. E é tal a realidade disso que estou dizendo, que, estando todos contaminados, estando todos sujos e fedorentos nas entranhas de nossos costumes e de nossos interesses, os homens não sentem mais o fedor de si mesmos! Todos agem,  pensam, falam, com os critérios da lama e da cloaca.

A tendência que nós teríamos, seria a de querer comparar todas essas realidades com os critérios da nossa antiga formação. Falaríamos do funk comparando com outros tipos de música: – Ah!, na minha época não era assim!  Falaríamos das pichações, e do homossexualismo, e do nudismo nas ruas, e do sexo desenfreado e vagabundo, do  aborto e das clonagens, sempre comparando, comparando...com o quê? Até quando?
Não, não podemos nos enganar. Não é mais possível esse tipo de sem-vergonhice. É preciso ter a coragem de dizer, de pensar, de saber: acabou! O mundo como nossos pais nos ensinaram já não existe mais. E se os homens ainda votam (meu Deus, ainda se acredita na mentira da "democracia"!!), se os políticos ainda nos governam, é por simples reflexo dos nervos da defunta sociedade liberal e apóstata.
Outro dia me contaram mais uma vez o caso de um professor de universidade, casado, bom pai de família. As mulheres da faculdade avançam sobre os homens, sem querer  saber se é casado, se não é;  umas dez para cada um, que falam com os homens já se encostando, já se entregando. E a pessoa que me contava isso, dizia: "elas já perderam tudo". Eu procurei mostrar ao meu interlocutor que, ao contrário, essas mulheres não perderam nada, porque não há nada mais a ser perdido. Perder, para um católico, é considerar que as mulheres, dentro de uma sociedade com critérios de bem e de mal, de virtudes e de vícios, abandonaram completamente os primeiros e vivem pelos segundos. Mas não é esse o fenômeno que assistimos. O que existe, de fato, é uma sociedade onde o bem e o mal não se opõem, onde não há virtudes e vícios, onde tudo é permitido, onde tudo é "bom". De modo que essas mulheres não agem assim por perversão delas. Não são maus elementos da boa sociedade. É a própria sociedade que é má, que é perversa. Elas nada mais fazem do que viver segundo os critérios desse mundo. Eis um exemplo que vem reforçar o que dizia acima, sobre o esgoto que está pelos ares, no ar que respiramos, nas conversas que temos, na casas como na rua.
E mais uma vez, espantados e agradecidos, é em São Paulo que vamos encontrar a explicação desse tremendo mal, desta horrível provação que é hoje pedida aos que querem se salvar:
«Porque nós não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra os espíritos malignos espalhados pelos ares».
Vejam bem, o Apóstolo desdenha quase dos pecados pessoais, da carne e do sangue, para nos advertir sobre um tempo em que o mal estaria espalhado pelos ares. Que coisa impressionante! Que revelação tremenda recebeu de Deus São Paulo.

E o que é que ele nos recomenda  para uma situação tão tenebrosa? O combate, a guerra, a espada. Mas não podemos combater simplesmente com as armas comuns que usamos contra a tentação:

«Portanto tomai a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau, e ficar de pé, depois de ter vencido tudo».
É, portanto, uma armadura, que nos cubra dos pés à cabeça, que nos leve à vitória total, sobre tudo, ou seja, sobre a própria sociedade erigida pelo demônio, pelo Anticristo, para a perda e condenação dos justos. Porque os maus, meus filhos, já estão condenados há muito tempo. O que o diabo não suporta é que haja ainda alguns loucos resistindo e querendo o Reino de Deus.
Que haja,  ainda, alguns doidos excomungados pela nova Religião de Vaticano II, conivente e "aberta para o mundo", que preguem o verdadeiro Evangelho de Cristo. Isso ele não suporta. Seu ódio mortal distila sobre esse esgoto do mundo uma saliva fétida e corruptora, que só o torna pior; porém, cheio de astúcias, o torna também mais enganador. E é assim que, insistindo em dizer que o mundo ainda é o mesmo, que as mulheres "perderam tudo", que em outras épocas "não se ouvia funk",  e coisas desse tipo, Satanás vai enganando os bons. E quem são os bons? São vocês. São vocês, que querem permanecer católicos, mas querem conviver com o mundo; que querem agradar a Deus, mas não rechaçam os prazeres mundanos. Que assistem à Missa verdadeira, mas acham que os protestantes são piedosos! Que lutam contra os pecados da carne, mas deixam seus filhos nas boates e na televisão.
E essa gente enganadora, esses cúmplices do demônio, Anticristos dessa nova sociedade má, declaram para quem quer ouvir isso que estou aqui denunciando.
Estando eu, numa sala de família onde alguém assistia a uma entrevista na televisão, o entrevistado, creio que falando em francês, espécie de artista já de idade, com uns cabelos brancos compridos, virou-se para a câmara e deu seu recado final, sua saudação alegre, sorridente, para os estúpidos que o admiram. Abriu os braços como quem mostra o mundo, e num sorriso simpático repetiu três vezes, lentamente, e com um gesto cada vez mais abrangente: Merde, merde, merde!
Que me desculpem os ouvidos pudicos. Mas diante de certas realidades, só o palavrão pode exprimir a realidade. E ele deve ser dito, para evitar que  uma palavra mais amena nos engane sobre a gravidade da coisa. Foi isso que ele disse, e disse bem, pois é esse o mundo que ele prega, é essa a cultura que ele produz, é esse o fedor e a cloaca de que eu falava acima.

E é por isso que os nossos, que os bons pais de família, não conseguem vencer os atrativos do mundo. É por isso que eles abrem as portas de suas casas e deixam entrar este ar tenebroso e fedorento. É porque está já tudo coberto por esta substância, de modo que nem os bons conseguem mais distinguir os perfumes da alma santa, da Igreja santa, da família católica.

Mas eis o que Deus nos revela  como sendo  nossa atitude diante desse quadro:

«E ouvi outra voz do céu que dizia: Saí dela, povo meu, para  não serdes participantes dos seus delitos e para não serdes compreendidos nas suas pragas» (Apoc. 18, 4)

No início do ano, em conversa com as famílias da Capela Nossa Senhora da Conceição, mostrei a elas que para manter-se fiel à Fé e perseverar na busca da salvação, diante do quadro avassalador em que se encontram nossos filhos, era necessária uma cumplicidade voluntária entre os pais e o padre. É preciso hoje,  que os pais trabalhem em conjunto com o sacerdote, querendo ouvir as orientações a que a moral católica nos obriga. Querendo estudar a doutrina, querendo que seus filhos sejam orientados, que tenham contato constante com o padre e com a Capela. Essa cumplicidade precisa ser vivida de modo prático e eficaz, na busca da oração, do Santo Terço dentro de casa, da fuga desse mundo corrompido e contagiante que está carregando de roldão o que vocês têm de mais amado, que são seus filhos. E vocês não estão conseguindo conter a avalanche, e estão se inclinando a achar que é assim mesmo, que todo mundo faz... e o mundo vai tendo cada dia maior presença em suas casas.
Cumplicidade significa renunciar a certas facilidades, a certos confortos, a muita televisão, a um comportamento indecente e imoral que se manifesta nas roupas, nas atitudes, nos gestos, no sexo precoce e pecaminoso. Cumplicidade é impedir, sim!, impedir que seus filhos ouçam esses funks e coisas semelhantes que só fazem arrebentar todas as forças espirituais da alma, movendo a carne para a sensualidade e para o pecado.
Cumplicidade significa organizar o lar de modo a que as atividades sejam orientadas; mas para isso, é preciso perder tempo, perder muito tempo, num esforço difícil mas necessário, organizando biblioteca e videoteca capazes de entreter seus filhos no bem. Vejam! O que eu entendo ser uma guerra para salvar seus filhos, é a presença da mãe junto deles, cada dia mais necessária, justamente no momento em que elas são cada dia mais empurradas para fora de casa, abandonando seus filhos, que vão ser criados numa creche ou por uma empregada. A mãe é chamada hoje,  não é ao fogão e ao tanque, não senhoras! É a um trabalho estafante, na rua, indo de livraria em livraria, de sebo em sebo, recolhendo livros bons, que sejam formadores de valores morais; comprando filmes que tragam algum proveito de  vida e de moral para os próprios pais e para seus filhos. O que as mães precisam fazer é formar-se na Universidade da Família, aprendendo a contar histórias, a brincar de roda, a inventar atividades e passeios, a ensinar música para seus filhos. Se fosse para fazer isso como educadoras, como diretoras de uma firma, como vendedoras de uma loja, aí elas ficariam encantadas... mas como é dentro de casa, ou pelo menos, como é para ser aplicado dentro de casa, elas reclamam, e querem a rua, querem o mundo.... Coisa estranha! Estranha contradição. Dizem que amam seus filhos, mas não querem estar a seu lado, na educação, à serviço de suas alminhas inocentes ameaçadas de morte prematura.
Creio que este papel reservado às mães, traria outras vantagens para seus filhos. Pois é evidente que duas ou três mães poderiam perfeitamente se juntar e trabalhar em conjunto, revezando-se talvez nas tardes ou manhãs livres, para juntar seus filhos em passeios e atividades. Logo apareceria uma que sabe tocar um instrumento, e eis que começa umas aulas de música, nessa idade delicada dos cinco ou seis anos, em que começa a formação musical e artística.

Parece ilusório o que lhes proponho? Talvez pareça ilusório porque as mães já não estão habituadas a esse esforço. Afinal, como é simples apertar um botão de televisão ou computador, e eis o silêncio das ovelhinhas  instalado no lar ... indo  para o  matadouro!

Não me parece ilusório porque são atividades próprias aos educadores, e os pais são educadores por obrigação e por graça de estado.
E se a objeção é o orçamento do lar, que a mãe precisa trabalhar senão não fecham as contas no fim do mês, respondo que são poucos os casos em que há verdadeira necessidade. O que se vê, em geral, é a busca cada vez maior de ter, de possuir, de gastar,  num vício desenfreado que vai contra a virtude da pobreza. Diminuam as necessidades, e que os maridos sejam mais eficazes nos seus trabalhos, pois cabe a eles a cumplicidade de fazer o possível para que a mãe possa criar seus filhos.
Lembrem-se que os filhos não são bonecos bonitinhos que só servem para satisfazer o orgulho e o amor-próprio dos pais, bonecos que se encostam numa creche ou numa televisão para que não atrapalhem o resto do dia. Ter filhos é obrigação de todo casal, e educar é carregar a Cruz de Nosso Senhor, abandonando a vontade própria para transmitir a Fé verdadeira, a verdade natural e sobrenatural, a moral de Deus e o amor ao próximo.
E para completar este combate onde as mães devem ser leoas rugindo contra o mundo devorador, onde os pais devem ser leões fortes e trabalhadores no sustento do lar, onde a família se encontra em todas as atividades, do ritual das refeições em comum, passando pela oração em comum para chegar à Santa Missa, venho exortá-los, agora, a que recebam a bênção do Sagrado Coração sobre as famílias, a Entronização no Lar do Sagrado Coração, como sendo a retaguarda espiritual dessa guerra tremenda e constante,  onde as forças espirituais devem ser preservadas, para que a vida natural não se perca seguindo os passos do demônio e do Anticristo. Façam a Entronização, façam a Renovação anual, e venham para a Capela, venham na 1ª Sexta, no 1º Sábado, receber de Nosso Senhor o Alimento Sacramental que nos dá a força sempre viva da Fé, da Esperança Teologal no sucesso e na Vitória, e a Caridade que é o próprio Deus vindo dentro de nós num dom de Si mesmo, como Amor Substancial. Que a Virgem Maria, Nossa Senhora da Conceição lhes dê forças para combater. É preciso desejar a vida eterna apaixonadamente, sem descanso. Não esmoreçam, pois o Senhor bate, já está às portas; Ele colhe, e queimará a erva daninha que não servir para o seu Celeiro.

domingo, 6 de julho de 2014

CARTA ABERTA AOS PADRES DE CAMPOS - DOM LOURENÇO FLEICHMAN OSB

30/10/2001
Reverendíssimo Dom Licínio e caríssimos padres,
Não sou a pessoa mais indicada para lhes escrever esta carta. Não tenho pretensão de obter dos senhores um assentimento que os senhores não quiseram dar aos bispos da Fraternidade, Dom Fellay e Dom Galarreta, quando estes foram tentar lhes mostrar o tremendo prejuízo que os acordos dos senhores com o Vaticano poderiam acarretar para a Igreja, para o combate pela “Sobrevivência da Tradição”.
No entanto, tenho uma razão muito séria para escrever sobre isso e o faço com o conselho e aprovação do próprio Dom Fellay. Essa razão é que alguns dos nossos fiéis de Niterói e Rio são oriundos de cidades atendidas pelos senhores e sempre tiveram os “Padres de Campos” em alta estima e reverência. Hoje, eles não conseguem atinar com o porquê de um acordo separado da Fraternidade São Pio X e, pior, contra os conselhos e avisos dos bispos da Fraternidade.
Outra razão que me dispõe a lhes escrever é a experiência que vivi, em 1988, no Barroux, quando Dom Gérard Calvet quis, ele também, fazer um acordo com o Vaticano.
Esta é a primeira semelhança que vejo entre a atitude de Dom Gérard e a dos senhores: Mgr. Lefebvre acabara de recusar um acordo por não ver, nas intenções do Vaticano, as garantias necessárias para a sobrevivência da Tradição. Dom Gérard, considerando os interesses particulares do seu mosteiro acima dos interesses da Igreja, aceitou separar-se de Mgr. Lefebvre para recuperar uma situação jurídica e canônica “normal”, largando a espada do combate.
Hoje, igualmente, a Fraternidade acabara de recusar um acordo, pelos mesmos motivos de Mgr. Lefebvre, e os senhores preferiram considerar o bem particular dos senhores e não o bem comum da Igreja. Cansaram-se de viver dia e noite no combate e na marginalização.
Mas as semelhanças não ficam aí.
Quando a Fraternidade estava fazendo as atuais negociações, eu conversava com o Pe. Fernando ao telefone e este me deu três razões que considerava suficientes para ir adiante e fechar o acordo, ainda que sem o Vaticano ter liberado a Missa de S.Pio V:
- muitos novos viriam para a Tradição
- nós teríamos um pé dentro da Roma modernista para pregar a Tradição
- poderíamos voltar atrás, caso fôssemos pressionados
Ora, são exatamente os mesmos argumentos de Dom Gérard, em 1988. Isso é para mim, chocante! Primeiro porque os senhores souberam criticar devidamente, então, a atitude de D. Gérard. Segundo, porque a conclusão lógica a que os senhores são obrigados a chegar hoje, é que D. Gérard teria tido razão!! Ele adiantou-se em dez anos aos senhores, o que os obriga a crer que ele teria tido mais visão das coisas do que os senhores.
Penso que não se pode negar as evidências seguintes:
- os novos que virão não estarão possuídos do desejo de se converter à verdadeira Tradição. Virão aos senhores porque os entraves jurídicos estarão retirados e não por razões de fé. Serão muito simpáticos, mas não buscarão a verdade total, aquele quê de doutrina que leva as almas ao martírio.
- estar dentro da Roma modernista, isso está provado, causa uma contaminação certa dos princípios norteadores do Vaticano II, que são insuflados em doses homeopáticas até que o fruto cai, como caiu a Fraternidade S. Pedro.
- Voltar atrás? Qual deles voltou? Eles preferiram concelebrar com o Papa a voltar atrás! E se voltarem, o que será dos fiéis das suas paróquias? Todos voltarão? Quantos ficarão presos nas malhas da legalidade? Considero essa atitude temerária e ela não leva em conta o equilíbrio das almas que lhes foram confiadas pela Providência. Os senhores regularizam no papel um falso problema de excomunhão, e os fiéis que sigam e obedeçam. E amanhã, eles que voltem atrás com os senhores!
Não consigo ver nisso o respeito pelas almas exigido pela vida sacerdotal.
Em relação à Fraternidade São Pio X, não entendo como os senhores conseguem manter uma recusa tão obstinada aos pedidos de bispos que foram em seu socorro em todas as ocasiões de suas necessidades: a Sagração de Dom Licínio, ato de extrema coragem desses bispos, pois muitos poderiam entender mal esse gesto, como alguns entenderam. Foi pensando nos senhores e em seus fiéis que esses bispos aceitaram essa Sagração.
Em seguida, os seminários da Fraternidade foram abertos aos seminaristas de Campos, recebidos como irmãos.
E além disso, quando a Fraternidade foi chamada para as negociações com o Vaticano, no início do ano 2001, os senhores foram amavelmente chamados a participar. Eles não estavam obrigados a isso, porém, mais uma vez, foram generosos e fraternos no combate pela Tradição.
Diante dessa evidência, a recusa a atender às súplicas da Fraternidade gera para os senhores o terrível peso de uma traição. E nisso, mais uma vez, os senhores se igualam a Dom Gérard. Os senhores, talvez, não vejam a coisa assim, mas também não podem recusar, aos bispos, o direito de se sentir traídos.
E assim como a traição de Dom Gérard causou um drama terrível entre os fiéis franceses, com a divisão das famílias e a profunda decepção pelo abandono e pela fraqueza, assim também os senhores hoje, causam, para os fiéis brasileiros a mesma decepção e as mesmas divisões.
Disse, em 1988, a Dom Gérard, o que repito hoje aos senhores: milhares de fiéis esperam ansiosos que os senhores os confirmem na fé católica, no combate que nos é exigido pela Divina Providência, sem se deixar levar pelo cansaço, pela fraqueza, pelo canto da sereia da legalidade comprometida. O que Nosso Senhor exige é o martírio gota a gota e a límpida e clara profissão de fé católica, sem pacto com os modernistas do Vaticano.
O Papa, sim, a legalidade jurídica, sim. Porém, antes de tudo, responder ao nítido chamado de Deus para o combate pela fé. No dia em que o Papa se converter de verdade, isso aparecerá mais claramente do que a luz do sol. Evidentemente, não é beijando o Alcorão e indo rezar numa mesquita que ele nos mostra essa conversão.
Todos os fiéis das capelas do Rio e de Niterói rezam pelos senhores, pedindo à Virgem Maria que mova os vossos corações de volta à luz da Verdade.
In Christo et Maria
Dom Lourenço Fleichman OSB