“É larga, disse Jesus Cristo, a porta do
inferno”. Pode-se acrescentar, são muitas as portas do inferno. Com efeito, há
tantas portas do inferno quantas espécies de pecados mortais; mas há entre elas
algumas mais largas e mais perigosas: são as da impureza, da injustiça, da
profanação do domingo, da embriaguez, da má educação dos filhos, do
protestantismo, do espiritismo, [...]
Primeira porta do inferno
A impureza
Não
erreis, disse São Paulo, os
impuros não herdarão o céu. A impureza é o amor desregrado dos prazeres da
carne. Pensar voluntariamente em coisas desonestas. Desejar praticar, ver,
ouvir coisas escandalosas; dizer palavras, ter conversas imorais, ler livros
obscenos, olhar gravuras, espetáculos, pessoas indecentes; permitir-se consigo
ou com outras pessoas liberdades criminosas; praticar no sacramento do
matrimônio o que a moral cristão proíbe... são pecados contra a pureza.
Dirão alguns: isso é pecado pequenino.
Pequenino? Mas é pecado mortal. Diz Santo Antonio que é tal a corrupção que faz
lavrar este pecado, que nem os próprios demônios podem sofrê-lo, e acrescenta o
mesmo santo que, quando se cometem semelhantes torpezas, até o demônio foge de
as ver.
Considerai agora o horror que causará a Deus
aquelas pessoas que, como diz São Pedro, semelhante ao suíno, se revolve no
lodaçal deste pecado. Dirão ainda os escravos da impureza: Deus é misericordioso,
conhece a fraqueza da carne. Pois ficai sabendo que, conforme o relata a
Escritura, os mais terríveis castigos que Deus descarregou sobre o mundo foram
a punição deste pecado.
Abramos, com efeito, a Escritura. O mundo
está ainda no começo e já os homens estão corrompidos, carnais impudicos. Deus
se arrepende de ter criado o homem e por isso toma a resolução de o exterminar.
Abre as cataratas do céu, a chuva cai durante quarenta dias e quarentas noites,
as águas sobem até cobrirem as montanhas mais altas, e a humanidade morre
afogada, abismada nas águas do dilúvio. Só escapam oito pessoas, a família de
Nóe que, sozinho guardara a castidade.
Será pecado leve? Que lemos ainda na Bíblia?
Havia na Palestina cinco cidades célebres pelo seu comércio, suas riquezas,
mais célebres, ainda, pela sua corrupção espantosa. Naquelas cidades
cometiam-se pecados de que nem se pode dizer o nome, pecados sensuais contra a
natureza, pecados horrorosos que infelizmente se cometem hoje, depois de dois
mil anos de cristianismo. Que fez Deus? Mandou chover sobre aquelas cidades uma
chuva, não mais de água, mas de fogo e de enxofre, que reduziu a cinzas as
cidades e os habitantes.
Não satisfeitos, Deus mandou à terra que se
abrisse e ao inferno que engolisse os restantes infames de Sodoma e Gomorra.
Que nos diz ainda a Sagrada Escritura? Que
outrora Deus mandava queimar vivo a quem cometia semelhantes pecados e até aos
casados que profanavam o matrimônio pelo crime horrendo de adultério. Este
pecado de adultério, depois do assassínio, o mais grave dos pecados contra o
próximo, foi sempre considerado até pelos pagãos como um crime digno de todos
os castigos. Os antigos egípcios condenavam a ser queimada viva a mulher casada
que tinha cometido este pecado; os saxões igualmente condenavam à fogueira a
mulher casada infiel, e à forca o cúmplice de seus crimes. E há cristãos que
trazem na lama do pecado o sacramento que São Paulo chama grande.
Estes são apenas os castigos para este mundo.
Que será no outro mundo!
Está escrito, e a palavra de Deus não volta
atrás, que os desonestos não entrarão no reino do céu. É este o pecado que
arrasta para o inferno o maior número das almas. Diz são Remígio que a maior
parte dos condenados estão no inferno por causa deste pecado. O mesmo diz São
Bernardo: este pecado precipita no inferno quase todo o mundo. Do mesmo modo
fala Santo Isidoro: é a luxúria muito mais que qualquer outro vício que sujeita
o gênero humano ao demônio. Em uma palavra, e é a doutrina de todos os santos,
de cem condenados no inferno, haverá um ladrão, um assassino, um ímpio, mas
noventa e nove desonestos.
Pobres pecadores. Longe de mim o infundir-vos
o desespero; o que quero dizer é que, se vos achais atolados neste vício,
procurai sair quanto antes deste lodaçal imundo, senão o inferno será vossa
sorte eterna.
O que deveis fazer é o seguinte:
1º Rezar. A oração é uma chuva celestial que
apaga o pecado da concupiscência. Rezai antes de dormir, de joelhos, ao pé do
leito, três Ave-Marias à pureza de Nossa Senhora.
2º Repelir sem demora todo mau pensamento e
desejo, chamando pelos nomes Jesus e Maria.
3º Fugir, mas fugir absolutamente, custe o
que custar, da ocasião do pecado, da freqüentação de tal pessoa, de tal casa,
de tal divertimento, de um modo especial destas danças modernas tão imorais e
escandalosas.
4º Enfim o meio mais eficaz é a recepção
freqüente e piedosa dos sacramentos da confissão e comunhão.
Desenganai-vos, se agora não vos emendardes, mais tarde será tarde demais.
Segunda porta do inferno
O furto
Não erreis, diz o mesmo apóstolo, os ladrões
não herdarão o reino de Deus.
O furto consiste em tomar, sem razão
legítima, o alheio, às escondidas do dono. A rapina é um furto praticado à
força na presença do dono.
A fraude consiste em enganar no comércio, no
peso, na medida, na qualidade, no preço, nos contratos. A usura, em cobrar
juros excessivos.
É pecado intentar processos injustos,
recorrer à chicana (trapaça feita no processo da justiça) para apoderar-se dos
bens ou dos direitos dos outros, ficar com um objeto achado quando o dono é
conhecido ou pode ser conhecido facilmente, comprar cientemente coisas
furtadas, causar qualquer prejuízo ao próximo em seus bens, sua lavoura, seus
negócios.
Enfim, pecam contra a justiça todos os que
mandam ou aconselham ou às vezes simplesmente consentem que outros causem
qualquer prejuízo ao próximo.
Pois este pecado é tão abominável que deveria
inspirar horror a todos os cristãos, porque atrai sobre o homem a cólera de
Deus e os priva do céu.
O alheio é uma isca com que se engole o anzol
pelo qual Satanás pega as almas. No entanto os homens são tão levados para os
bens perecedores, que seus herdeiros disputarão e arrancarão depois da morte,
que obcecados pela cobiça deixam se arrastar. Há certas pessoas que tributam,
por assim dizer, honras divinas ao dinheiro e o apreciam com seu fim último.
“Seus deuses são o ouro e a prata”, diz o profeta Daniel.
Verdade é, há pecados mais graves que o
furto, mas nenhum torna mais difícil a eterna salvação. A razão disso é que,
para alcançar o perdão dos demais pecados, basta ter deles um verdadeiro arrependimento,
e confessá-los; mas não assim quando se trata do furto; o arrependimento com a
confissão não é suficiente, além disso é preciso restituir. Ora, nada mais raro
que a restituição. Eis a visão que teve certo eremita: viu Lúcifer sentado no
seu trono. Era a hora em que os demônios voltavam da terra aonde tinham sido
mandados para tentar os homens. A um que chegou muito atrasado, Satanás
perguntou qual o motivo do seu grande atraso. Respondeu que tinha trabalhado
até àquela hora para impedir um ladrão que fizesse uma restituição que lhe
pesava muito na consciência. Lúcifer mandou castigá-lo, dizendo-lhe que nunca
devia ignorar que o ladrão nunca restitui e que tinha perdido seu tempo.
Em ver assim é.
Quantos procuram iludir-se sobre a
necessidade da restituição. Alega-se a pobreza... a família.. deixa-se aos
herdeiros o cuidado de restituir, ou, para tranqüilizar a consciência, dá-se
alguma esmola aos pobres, mesmo quando se conhece a quem se deve. No entanto,
Santo Agostinho disse: “ou restituição ou condenação”.
Consideremos com São Gregório que as riquezas
que temos amontoado por meios injustos nos abandonarão um dia, mas que os
crimes cometidos nunca nos abandonarão. Lembremo-nos que é uma extrema loucura
deixar após si bens de que não temos sido donos senão uns instantes e de
carregar conosco injustiças que nos atormentarão eternamente.
Lembremo-nos principalmente da palavra de
Jesus Cristo: “Que serve ao homem lucrar o mundo inteiro, se depois perder sua
alma?”
Terceira porta do inferno
A profanação do dia do Senhor
A santificação do domingo comporta duas
coisas: a cessão do trabalho e oração.
Aos domingos não se pode trabalhar sem
necessidade ou por motivo justo: “Trabalhareis durante seis dias, disse outrora
Deus aos israelitas, mas ao sétimo dia não fareis nenhum trabalho, nem vós nem
vosso servos”. Trabalhar ao domingos (pois agora deve-se guardar o domingo,
porque é o dia em que Jesus ressuscitou ) é, pois, uma desobediência formal a
Deus.
O trabalho do domingo é um desastre para o
corpo, para a alma e mesmo para a fortuna.
Quereis ver um povo sadio, forte, alegre?
Vede as nações que respeitam o domingo. Quereis ver um povo doentio,
fraco? Considerai os países em que o dia
do Senhor é profanado.
Quanto à alma, o trabalho ao domingo faz que
o homem nem se lembre dela. Quem trabalha sem cessar torna-se material como a
terra que cultiva, como as máquinas que maneja, torna-se um animal, um bruto.
O trabalho ao domingo é como o bem mal
adquirido, atrasa. Deus não engana. Ora, disse aos judeus: “Guardareis o dia do
Senhor e respeitareis meu santuário: se fizerdes estas coisas, eu vos darei as
vossas chuvas a seu tempo e a terra e as árvores darão o seu fruto; comereis o
vosso pão a fartar e habitareis seguros em vossa terra. Se, pelo contrário, rejeitardes
meus mandamentos, visitar-vos-ei em minha cólera, vossas árvores, vossos
campos, não darão seu fruto, farei que o céu seja como ferro e a terra como
bronze, plantareis debalde a vossa semente e vossos inimigos a comerão, as
feras devorarão vosso gado, mandarei a peste, a guerra, a fome”. Repousemos,
pois, ao domingo e santifiquemos este dia pela oração.
A oração obrigatória é a Santa Missa, para
quem não tem um motivo justo de dispensa. Estes motivos são os seguintes:
doenças, cuidados de crianças ou de doentes, grande distância da igreja (mais
de uma hora de caminhada, a pé).
As mães que têm crianças pequenas procurem
alguém que possa substituí-las, para que, pelo menos de vez em quando, possam
ouvir a Santa Missa.
Não
esqueçamos que faltar à Missa por descuido, por preguiça, é pecado grave. Mau
sinal, péssimo sinal, perder a Missa aos domingos. Enquanto o homem aos
domingos veste a roupa limpa, toma o caminho da igreja, assiste ao santo
sacrifício, ouve a palavra de Deus, há esperança. Embora este homem se tenha
desviado de Deus, um dia voltará para ele.
Mas, quando o homem chegou a este ponto de
embrutecimento que não faz mais distinção entre dia de serviço e dia de
domingo, não há mais esperança. Não é mais cristão, não é mais homem, é animal.
É a perda da alma, é o inferno.
Que dizer agora dos que não só profanam o dia
do Senhor pelo trabalho e a perda de Missa, senão pelo pecado propriamente
dito. Infelizmente, para muitos, o domingo é o dia do pecado, da embriaguez, do
jogo, do escândalo.
Que crime! Roubar a Deus o dia que ele
reservou para sua glória e para nossa salvação, e consagrá-lo a Satanás pelo
pecado!
O que digo do domingo, digo-o das festas que,
muitas vezes, em lugar de serem festas dos santos, são festas do demônio, pela
devassidão. Assim é que outrora os judeus celebravam os domingos e as festas e
por isso Deus lhes disse: “Eu tenho horror de vossas festas, lançar-vos-ei em
rosto as imundícies de vossas solenidades”. O que Nossa Senhora e os santos
esperam de nós nos seus dias de festas não são músicas, foguetes, danças,
jogos, orgias, mas orações fervorosas, confissão, comunhão. Só assim nos
tornamos merecedores de seus favores.
Quarta porta do inferno
A embriaguez
“Não erreis: os bêbados não herdarão o reino
de Deus”, diz São Paulo. A embriaguez é um dos vícios mais vergonhosos e
funestos. O seu efeito imediato é privar o homem do uso da razão e até de seus
membros. Este pecado ultraja a Deus porque mancha e apaga no homem a imagem de
Deus. Pela sua alma o homem é a imagem de Deus. Como Deus, a alma conhece, ama
e quer. Vede agora o escravo da bebida. Onde está a imagem de Deus? O
embriagado é incapaz de formar uma idéia. Semelhante ao animal, não é capaz de
exprimir seu pensamento. Onde estão seus sentimentos? Só tem instinto de bruto.
Onde está sua liberdade? Faz o que não quer e não faz o que quer. Chega a ponto
de não poder ficar de pé, de não poder dirigir seus passos, de cair. Um dia, um
bêbado caiu numa sargeta. Chega um cão, olha, fareja-o festejado-o com a cauda.
O cachorro parecia satisfeito por encontrar um colega. Mas depois o cachorro
foi-se embora, e o bêbado ficou deitado na lama, porque não podia arredar-se do
lugar. Deus fez o homem grande, diz a Escritura, mas, pelo vício, o homem
nivelou-se ao bruto.
O alcoólico é inimigo de sua alma, porque
calca aos pés todos os mandamentos da lei de Deus. Amai a Deus sobre todas as
coisas, diz o primeiro mandamento. O escravo da embriaguez é do número daqueles
que São Paulo estigmatiza, quando diz: “Seu ventre é seu Deus”. O bêbado blasfema
frequentemente, roga pragas, jura falso, profana o dia do Senhor, é mau filho,
mau pai, mau esposo, briga, fere, às vezes mata. Como é raro dois embriagados
separarem-se sem trocar uns murros e se estragar a cara.
Quanto ao sexto mandamento, são obscenidades
de toda espécie, pensamento, desejos, palavras, olhares, ações, brutalidades
que os próprios irracionais ignoram.
O alcoólico é inimigo de seu corpo. O álcool
é um veneno, acaba sempre por estragar e matar. Exerce um efeito letal sobre o
estômago, o coração, os rins. Os médicos contam até vinte doenças quase todas
mortais, causadas pelo álcool. De 120.000 pessoas que morrem cada dia, 20.000
morrem diretamente pelos excessos alcoólicos.
O alcoólico é inimigo de sua família. Uma boa
moça regozijava-se na doce esperança de em breve achar-se ao lado de um moço, o
preferido do seu coração, para levar com ele uma vida cheia de alegria e de
felicidade. Por ele deixou pai mãe, a ele dá sua mocidade, seu coração, suas
forças, seus trabalho, sua vida. E o moço lhe promete torná-la feliz,
promete-o, jura-o, até, ao pé do altar. E, agora, escravo da embriaguez chega
em casa bêbado, envergonhada sua esposa, a descompõe, a maltrata, e, às vezes,
deixa-lhe faltar o estrito necessário. Que ingratidão, que traição!
Este pecado levanta contra ele um brado de
maldição, arrancando de um coração esmagado. O eco desta maldição subirá até o
trono de Deus, para bradar vingança contra o violador do amor conjugal.
Mau esposo, talvez pai pior ainda. Filhos
idiotas, raquíticos, epilépticos, eis, geralmente, a descendência do alcoólico.
E estas pobres criaturas geralmente nascem predispostas ao vício. O fruto não
longe da árvore, diziam os antigos. Que educação dará aliás tal pai a seus
filhos? Que ouvem os filhos? Palavras obscenas, conversas ímpias. Que vêem?
Brigas, escândalos. Pai miserável, que responderás no dia do juízo, quando Deus
te perguntar qual o exemplo que deste a teus filhos?
Renunciai ao vício, cristãos, e gozareis as
satisfações da virtude e da abundância, os encantos da vida de família, tão
puros e tão santos. Que alegria ver-se objeto da afeição de uma esposa, ter
filhos sadios e bem educados!
Fugi, pois, do maldito vício da embriaguez.
Rezai, freqüentai os sacramentos, afastai-vos da ocasião, principalmente, lembrai-vos
da palavra de São Paulo: “Os beberrões não entrarão no céu”.
Quinta porta do inferno
A má educação dos filhos
Quantos pais se perdem e perdem a seus filhos
porque não os educam no temor e amor de Deus, não cumprindo os cinco deveres
principais que lhes impõe a paternidade, o amor, a correção, a instrução, a
vigilância e o bom exemplo.
Há pais que não amam os filhos como devem
amá-los. Certos homens não merecem o belo título de pais. Desperdiçam no jogo,
na bebida, na devassidão o dinheiro que ganham, deixando faltar aos filhos o
estrito necessário. Pais monstruosos, piores que os irracionais, que sabem
passar fome para dar de comer a seus filhos. Há mães que amam aos filhos, mas
só a parte material, o corpo. Quanto à alma, pouco ou nada se ocupam dela.
Adiam o batismo semanas e meses, deixando o filho entregue a Satanás e em
perigo de morrer pagão. Quantas almas perdidas e quantas outras estragadas para
sempre. Quanto mais Satanás se demora no coração do filho, mais o estraga. Toda
a preocupação, todos os cuidados para com o corpo, até o luxo, até as modas
mais indecentes, e quase nada para a alma.
Que será daquela filha a quem a mãe procura
inspirar só vaidade, a quem fala só de beleza, a quem enfeita como uma
divindade? Será uma moça vaidosa, orgulhosa. Ai do moço que a tomar por esposa,
porque será uma esposa leviana, exigente, cuja paixão do luxo nada poderá
satisfazer. Será daqui a pouco a desavença, a suspeita, a briga, o abandono, a
ruína do lar.
Quantos pais, quantas mães, mormente perdem a
sim mesmos porque não cumprem o dever da correção. O homem nasce inclinado ao
vício, diz a Escritura. No coração da criança madrugam os maus instintos. Bem
cedo é preciso reprimi-los, corrigir os filhos, daí a pouco será tarde,
impossível.
Como corrigir? À força de gritos e
descomposturas? Isso só serve para ensinar tudo quanto há de palavras feias. À
força de pancadas? Isso avilta e embrutece. Em primeiro lugar é preciso avisar:
-- “Meu filho, não faças isso, não Andes em tal companhia, não convém, não pode
ser, não consinto”.
Às vezes este aviso será suficiente. Em caso
de reincidência na mesma falta, é necessário repreender energicamente e ameaçar
e, enfim, no caso de nova reincidência, castigar severamente.
Até quando os pais têm obrigação de corrigir
os filhos? Não se esqueçam que, enquanto filhos, não há grandes, nem velhos,
não há filhos de branca. O filho, enquanto tiver filho, sempre será pai, e ai
do pai que não avisa, repreende e corrige seu filho, e ai do filho que não
atende às justas recomendações de seu pai.
Cedo também deve começar a instrução, porque
tudo depende do começo tudo depende, pois, principalmente da mãe. Feliz, mil
vezes feliz quem teve uma cristã e piedosa. Tal a mãe e São Luís, rei da
França. Tendo nos braços seu filhinho, dizia: “Meu filo, eu te amo muito, mas
tu tens no céu um Pai, uma Mãe que te amam ainda mais; cuidado, não faças nada
que possa ofendê-los, não cometas pecado. Antes quisera ver-te agora mesmo
morrer em meus braços que ver-te mais tarde, rei da França, cometer um só
pecado mortal”. Mãe, o coração dessa criança, vosso filho, é um papel branco em
que podeis escrever o que quiserdes. Gravai nele ódio ao pecado, amor a Deus,
devoção a Maria Santíssima.
Ensinai e mandai ensinar-lhe o catecismo. É
uma obrigação gravíssima. A mãe que não manda seu filho ao catecismo, onde é
possível, é indigna de absolvição. Meninos e meninas de dez, doze anos, moços e
moças que nunca apreenderam uma palavra de catecismo, nada sabem de religião e
de suas obrigações, e por isso não se confessam, não comungam, vivem no pecado,
é o que encontramos todos os dias. Os culpados são os pais. Quantas moças põem
o pé no inferno no dia em que casam, porque assumem uma obrigação que são
incapazes de cumprir, ensinar aos filhos a amarem a servirem a Deus. Que
responsabilidade e como poderão salvar-se? Perdem a si e a seus filhos.
Vigilância em todos os sentidos. O maior bem
que os pais possam deixar a seus filhos não são muitas riquezas, terras,
dinheiro, mas a inocência e os bons costumes. Por isso seu grande empenho deve
ser conservar-lhes este tesouro. Tarefa difícil em um mundo em que tudo é
escândalo. Só uma grande vigilância. Os pais devem trazer os filhos presos
debaixo de seus olhos. Sem esta sentinela de vista não escapam à corrupção.
Vigilância, pais e mães, que vossos filhos não vejam nunca nada, nem em casa
nem fora de casa, nem de dia nem de noite, nada capaz de ofender a inocência.
Mas quantos pais, diz um santo, têm mais cuidado com seus animais, suas
criações, que com seus filhos! Quantos pais deixam seus filhos andarem aonde e
com quem querem, quantas mães deixam meninos e meninas brincarem longe de seus
olhos. Quantas crianças saem de casa inocentes e voltam culpados; quantos moços
e moças acham sua perdição em noites de festas, de volta por estradas escuras e
desertas! Quantos desastres! Pais e mães, onde andam vossos filhos e filhas,
que casa, que pessoas, que divertimentos freqüentam? Examinai vossa
consciência, condenai-vos, antes que Deus a examine e vos condene.
Se é um grande pecado dos pais não afastarem
os filhos do pecado, é um crime enorme levá-los ao pecado pelo mau exemplo.
Nada mais eficazmente terrível que o mau exemplo dos pais. Os pais não rezam, o
pai não se confessa, a mãe não vai à Missa aos domingos, os filhos hão de fatalmente
imitar seu procedimento. Por que rezar? – disse um dia uma menina à sua
professora – eu nunca vejo papai nem mamãe rezarem.
“Ai do homem, disse Jesus Cristo, que dá
escândalo, isso é, dá mau exemplo”; por conseguinte, mil vezes ai dos pais que
escandalizam seus filhos: “seria melhor lhes amarrar ao pescoço um pedra e
serem lançados ao mar”.
“Maldito seja meu pai, disse um condenado à
morte, à hora de subir ao cadafalso, a ele é que devo a minha desgraça; nunca
me ensinou meus deveres para com Deus e os homens, deixou-me freqüentar más
companhias, deu-me em tudo o mau exemplo”. Faz horror pensar que no inferno
muitos filhos amaldiçoam aos pais e muitos pais aos filhos, porque foram uns
para outros causadores de sua condenação.
Pais e mães, amai a vossos filhos com amor
cristão, educai-os no amor e temor de Deus, afastai-os do mal e dai-lhes em
tudo o bom exemplo, e vossos filhos vos darão gosto, neste mundo serão vossa
consolação e no outro vossa coroa.
Sexta porta do inferno
O protestantismo
O protestantismo é inimigo jurado da nossa
santa religião. Nega os dogmas mais santos: o santo sacrifício da Missa, a
confissão, a comunhão, a maior parte dos sacramentos, a existência do
purgatório, a instituição divina da Igreja, a autoridade do Papa, a legitimidade
do culto dos santos. Neste particular vai até a caluniar aos católicos, dizendo
que adoram os santos, as imagens.
Não, mil vezes não! Não adoramos os santos.
Adoramos só a Deus. Quanto aos santos, nós os honramos, pedimos sua proteção
junto de Deus. Honramos as imagens como sendo os retratos dos santos. Que mal
haverá nisso? Não podemos honrar o retrato de um pai, de uma mãe, de um
benfeitor, colocá-lo em nossa sala, no lugar de honrar? Se Deus, outrora,
proibiu aos judeus que tivessem imagens, é porque os judeus habitavam no meio
de idólatras e estavam expostos a cair em idolatria. Foi uma medida disciplinar
e passageira. Aliás, o mesmo Deus deu ordem a Moisés que adornasse a arca com
imagens de anjos. Se os protestantes não têm outra coisa que nos exprobrar,
calem-se; esta acusação cobre-os de ridículo.
É inegável a existência do perigo protestante
no Brasil.
Não se deve, porém, temer exageradamente o
protestantismo porque ele tem contra sai a promessa de feita por Cristo à sua
Igreja e porque de natureza tende a se desagregar, dividir e multiplicar-se.
Todas as tentativas de união serão sempre uma paródia da verdadeira união de
fé. Ademais o Brasil nasceu, cresceu e vive ainda sob o bafejo santo da Igreja
Católica e não quer ser ingrato às bênçãos celestes, simbolizadas pela
constelação bendita do Cruzeiro do Sul.
Mas, doutra parte, não deve ser desprezado ou
descurado.
A fé, na verdade, foi prometida à Igreja e
não às nações; estas, como os indivíduos, a podem perder; e não padece dúvida
que o protestantismo é um sério perigo que poderá ser grave se não se
empregarem remédios aptos e convenientes.
Não se devem desprezar os protestantes. Se
não se deve exagerar nem diminuir o perigo, é preciso considerá-lo em seu justo
limite.
Daí a necessidade dum estudo leal e ponderado
sobre as forças e elementos do protestantismo no Brasil. Quanto maior for o
estudo, tanto melhor será o combate.
Devemos combater os protestantes:
Com grande caridade, muita paciência e
ardente zelo pela sua conversão; com constante e sólida instrução do povo nas
verdades reveladas; com a prática das virtudes cristãs e com a freqüência dos
sacramentos; advertindo os fiéis dos enganos; dando bom exemplo; com o
sacrifício e orações fervorosas para que todos sejam uma só coisa (Jo 17, 22).
O protestantismo foi fundado por Lutero. Quem
era Lutero? Um frade que, depois de passar muitos anos no convento, deixou a
vida religiosa, deixou seu hábito e ... casou. Com que? Com uma freira, chamada
Catarina, que ele mesmo tirou do convento. Lutero viveu e morreu na crápula, na
orgia, no escândalo. Julgai se Deus pode suscitar semelhante apóstolo para
reformar a Igreja ou fundar uma nova religião.
Não discutamos com protestantes, não vamos ao
seu culto, nem por curiosidade. Não leiamos suas bíblias, seus folhetos. É
pecado mortal ter consigo um bíblia protestante. Tudo isso expõe nossa fé a
naufragar.
Sétima porta do inferno
O espiritismo
O espiritismo consiste em pretensas ou
verdadeiras comunicações com espíritos do outro mundo, ou as almas dos defuntos,
para descobrir coisas secretas relativas a esta ou à outra vida.
Digo comunicações pretensas, supostas, porque
é sabido que grande número de médiuns, isso é, de pessoas de que se servem os
espíritos para receberem as respostas dos espíritos ou das almas, os
profissionais do espiritismo, têm sido convencidos de fraude. Noventa por cento
pelo menos dos casos de comunicações espíritas são vergonhosas trapaças.
Digo, em segundo lugar, comunicações
verdadeiras, porque sábios verdadeiros e conscienciosos têm verificado a
verdade de certas comunicações, de sorte que forçosa é admitir que nem tudo é
fraude.
Por conseguinte, às vezes há espíritos que se
comunicam. A questão é esta: a que espíritos devem ser atribuídas estas
comunicações? Em outras palavras: quem é o espírito que se manifesta? Não são
almas dos defuntos. O dogma católico admite, para as almas que passaram os
umbrais da eternidade, dois estados definitivos e um intermediário, mas
passageiro. Ou elas estão no inferno, ou no céu, ou no purgatório. Ora, em
qualquer estado destes em que elas se achem, não está na possibilidade delas
aparecerem a quem as evoca. As do inferno estão presas pela corrente da justiça
divina, que fixou a sua desgraçada sorte para a eternidade e deste horrendo
calabouço, de que os demônios são guardas, elas não podem sair, senão em caso
muito extraordinário, por especial providência de Deus. As que estão no céu, no
purgatório, estão em perfeita conformidade à vontade de Deus, e, portanto,
nunca elas se manifestam senão por fins altíssimos, dignos da infinita
sabedoria de Deus, como auxiliar com preces e santos sacrifícios essas almas,
ou converter algum pecador. A regra geral que Deus tem estabelecido para as
almas que passam desta para a outra vida é que: “o espírito vai e não volta”.
Não são as almas que se manifestam. É o
demônio. A prova é que na maioria dos casos estas comunicações tendem ao erro e
à falsidade, que é o caráter próprio daquele que tem o título “pai da mentira”.
Sem dúvida, há às vezes algumas verdades enunciadas, mas é para mais facilmente
induzir ao erro. Assim dirão que há purgatório, mas que não há inferno – que
fulano está no inferno, mas que a condenação não é eterna. Outras vezes são
respostas ambíguas e contraditórias. Para um católico não pode haver dúvida, é
o demônio. Acrescentemos o que em mais de uma circunstância se tem dado; e é
que se algum dos circunstantes se acha munida de água benta, um crucifixo, uma
medalha, o espírito ou fica mudo ou dás respostas incoerentes.
Vejamos, aliás, quais as conseqüências
resultantes do espiritismo, para mais vermos a intervenção diabólica, porque
pelos efeitos melhor se conhece a causa. Uma das conseqüências que mais avultam
é a loucura. É um fato notório. O diretor do Hospício dos Alienados Pedro II,
no Rio de Janeiro, declarou, há anos passados, que sessenta e cinco por cento
dos alienados eram vítimas do espiritismo.
Que dizer do suicídio? Quem ignora que os
tenha havido e só motivados por esta causa? Quantos desgraçados entre estes
cegos a quem Satanás leva pelo cabresto até esta última cegueira! Quanta às
imoralidades praticadas muitas vezes em certas reuniões espíritas, delas nem
convém falar. Há outras conseqüências, doutra ordem mais transcendente e é que
o espiritismo impele seus adeptos à heresia e ao erro. É principalmente entre
os espíritas que se encontram os que negam a divindade de Jesus Cristo, da
confissão, da Igreja; os que ridicularizam as práticas religiosas, aprovam o
ensino ateu.
Basta! Fica claro e evidente que as pessoas
que se entregam a estas práticas cometem pecado mortal não só porque
desobedecem à Igreja, que as proíbe, mas também porque procuram pôr-se em
comunicação com o espírito das trevas, o inimigo de Deus, o que é proibido pela
Sagrada Escritura: “Entre ti não se achará... quem pergunte a um espírito
divinatório nem aos mortos” (Dt 18, 11).
Os espíritas são hereges porque negam
verdades reveladas e aderem a erros condenados, renunciando, desta arte, ao
título de católicos. Estão fora da Igreja; se não renunciarem a estas práticas
não se salvam.
Fonte: O Pequeno Missionário
Pe. Guilherme Vaessem, C.M.